segunda-feira, junho 30, 2008

Chaos A.D.

São evidentes os sinais de mudança do Mundo.

Vede, irmãos da bola: que me caiam as lendárias cabeleiras do Paulo Madeira e do Fernando Couto em cima se o vocalista dos Sepultura não vai jogar no Sport Lisboa, depois de ter perdido uns quilitos. Ou, em alternativa, se o novel reforço dos vizinhos do Colombo com apelido de famoso boxeur não é mais conhecido no mundo do espectáculo por ter gritado “Refuse/ Resist” do que propriamente pelas suas capacidades futebolísticas.

As faixas laterais lusas, que foram o “Territory” de extremos carismáticos como Marito ou Rebelo e que deixaram a porta do estrelato entreaberta a fenómenos como Porfírio e Speedy Dominguez, estarão agora entregues aos devaneios do "trash-metal".

Temo seriamente pela Bergessiação descontrolada do futebol português, traduzida em cruzamentos cacofónicos e dribles com direito a "headbanging".
A confusão está instalada.
Vem aí o “Chaos A.D.
PS: Olá, o meu nome é Sr. Rodrigues e sou novo neste aprazível balneário. Quero que saibam que tenho um fato de treino da Aronick de 1990.

domingo, junho 29, 2008

Pobre Bock

A vida é isto mesmo, Fernando Oliveira.

Um golo mais, um gole a mais.

Fartura e esplendor, espuma e gás. Um ponta-de-lança com propensão para trocadilhos fáceis.

Fernando Oliveira nasceu no Porto, nos idos de 1975. Formou-se como jogador no azul-e-branco clube local. Aí, presume-se, ganhou aptidões únicas. Uma relação orgásmica com o golo. Um epíteto que marca, de forma indelével, todo o futebol nortenho. Fernando é Bock, recebeu de braços e goelas abertas a sua notável alcunha. Bock é, sem complacências, um super goleador esquecido, poeta maldito do golo, homónimo de cerveja famosa, tudo num só corpo sedento de sentir as redes a balouçar.

Podia ser ficção. Talvez um Robin Hood das divisões inferiores. Quiçá um modesto Hercule Poirot a detectar as pistas do golo. Ou um rebelde incompreendido, o James Dean de Vizela. Mas não. Bock e a sua desdita são cruelmente reais, como mais um despiste no IP4.

A Bock só lhe faltou ser, realmente, super. Domingo após Domingo, Bock cirandou pelas hospitaleiras localidades entre Douro e Minho, no seu afã habitual por entre defesas incautos e guarda-redes desamparados. Labutou, porfiou, alcançou. Bock não parou. Bock facturou e facturou, encheu de alegria os adeptos locais. Glória. Esplendor. O terror dos adversários, sempre com um sorriso humilde a transbordar-lhe da boca. Chuteiras afinadas e remates certeiros, a vida de Bock confunde-se com o golo, para ele vive, dele sobrevive. Bock libertou Freamunde dos jugos neo-imperialistas de Paços de Ferreira, vizinhos aburguesados da Primeira Liga, deu-lhes uma razão para acreditar que era possível ser maior e melhor.

Uma eterna promessa que aguardou pela concretização… A história de Bock é tão linda quanto trágica, porquanto Bock obteve um sucesso local esmagador que nunca extravasou os muros imaginários da II Divisão, a despeito de tanto golo, tanta alegria proporcionada, tanto abraço de companheiro e de aficionado.









Bock podia ser mais uma atracção da tasca, mais um jogador de sueca ou dominó. Mas não; não se resignou e forneceu-nos, a todos nós, o verdadeiro sentido da vida: nunca desistir, sonhar até morrer, marcar um golo aqui e ali. Em Freamunde ou em Caldas de Vizela, resiste e esquece-te que te chamas Fernando Oliveira, a vida brilhará àquele que estende a esperança e a alegria aos que lhe seguem, figuras sombrias do fado que é esta vida de anonimato.

Este predador perdido no obscurantismo, vampiro da grande área, marcou que se fartou. Sempre mais ou menos ignorado pelos menos informados, mais interessados em produtos instantâneos ao olhar, nos grandes e caros artigos de montra, tipo Postigas, Nunos Gomes e Pauletas. Bock lá estava, atrás, furando marcações, atento à linha do fora-de-jogo, remetido para as prateleiras mais recônditas. Um modesto culto da personalidade, bem à sua imagem, desenvolveu-se à sua volta, reclamando-lhe o estatuto.

Passou por Maia, Amarante e Lixa, dali abalou como folha caduca voando ao vento, já com o olhar em Freamunde, onde explodiria, versejando ao ritmo do último toque em direcção às malhas. Pensavam os adeptos, este tem mesmo que sair, é muito bom, com demasiado gás para conseguirmos retê-lo por aqui, nos confins do semi-profissionalismo futebolês lusitano. Um Bock topo de gama. Saiu para o que muitos consideravam uma escalada progressiva rumo ao topo do mundo. O que se seguiu foi Trofense, Marco, Ermesinde, Marco e Leixões. A arrancada tardava. Bock lá ia amansando a bola, indicando-lhe com meiguice “o golo é já aqui”. Mas o sucesso, o reconhecimento, onde ficam?

A massa associativa de Freamunde resgatou de novo o seu filho adoptivo pródigo. Relançou de novo todo o seu instinto goleador. Hoje, a contabilidade dos golos já ultrapassa os cem, foi duas vezes melhor goleador dos campeonatos nacionais, médias inclusivamente superiores a um golo por jogo. E, já a perspectivar o ocaso desta incompreensivelmente desconhecida carreira, regressou ao segundo escalão português. Podia ser desta. Tinha voltado a subir o degrau, as ambições eram legítimas. Debalde. As nuvens não tardaram.

Os últimos ecos deram conta de um desaguisado entre o treinador dessa equipa, o Vizela, por sinal carente de golos, e Bock. Bock, pura e simplesmente… não jogava! Não tinha oportunidade de explanar todo o seu manancial de remates e cabeceamentos fatais, não podia fazer o que mais gostava. Mais uma vez, todas as portas ilustres se fecharam, desprezando o seu currículo construído com suor e golos. Não teve alternativa: empacotou a trouxa e regressou, outra vez, aonde lhe conseguiam dar crédito: Freamunde. A propósito da despedida, o amargurado Bock confidenciou: “No dia da rescisão o técnico fugiu de mim, evitou falar comigo e não esteve na reunião que tive com a direcção. Tive de pedir ao presidente para me permitir ir ao balneário despedir dos colegas.”

Em Freamunde agradeceram. Com muita comiseração, assistem ao seu actual símbolo de volta aos únicos balneários onde sempre se sentiu acarinhado, mesmo sabendo que tal só é possível por manifesta desatenção dos grandes senhores do futebol. Ninguém quer saber de Bock. Ninguém quer olhar para os golos que Bock marca. Ninguém quer um avançado português competente nas suas fileiras. Ninguém quer mais um nome esquisito para ombrear com Sokotas, Kikins ou Buenos.

Bock resignou-se, enfim. 31 anos já não dão azo a grandes utopias. Está destinado a ser o profeta dos mais fracos, um anti-herói forçado pelas circunstâncias mais ou menos funestas que se atravessam no percurso da gente esforçada, mas sem o favorecimento dos astros. Uma história que acabou estranhamente como tantas outras, depois de tanto fulgor evidenciado.

Bock desabafou: “Encontro-me no auge das minhas capacidades como jogador e goleador e só lamento não conseguir concretizar o sonho de jogar na SuperLiga. Cada um nasce para o que nasce, e se calhar, por muito que dê nas vistas, não sairei deste escalão. Mas se tiver que ser assim, que seja sempre ao serviço do Freamunde”.

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NOTA: Este belo texto foi redigido pelo nosso novo colaborador, que em breve fará a sua primeira aparição em conferência de imprensa, devidamente adornado com um boné laranja da JCA. Que seja a primeira de muitas investidas gloriosas, e que o destino não lhe deixe apenas participar num par de treinos, tal qual Rushfeld ou Luzhny. Um massivo Bem-Haja, e seja bem vindo.

terça-feira, junho 24, 2008

SÃO JOÃO, SÃO JOÃO



Hoje é dia de Romaria, de São João! Por isso, todos em côro:
"São João Manuel Pinto
Bem bonito que ele é
Bem bonito que ele é
Com os seus caracois d'ouro
E o seu sotaque dhupinha de madha ao pé
E o seu sotaque duphpinha de madha ao pé
Não há nenhum assim
Pelo menos para mim
Com tantos caracóis só mesmo o Quim

São José Veiga já se acabou
O São Vieira está-se a acabar
S. João, S. João, S. João,
Toma um balão e vai pro Sion jogar


Bis bis..
São José Veiga já se acabou
O São Vieira está-se a acabar
S. João, S. João, S. João,
Toma um balão e vai pro Sion jogar"

sábado, junho 14, 2008

Evariste Sob Dibo, o Pequeno Artista


Sob Evariste Dibo é um nome carregado de simbolismo, alma e magia.
Arte em estado puro. Pureza em estado artístico. A leveza do ser futebolístico em pura comunhão com os quatro elementos.

Um artista é na maioria das vezes um incompreendido, um pária da sociedade. Um sonhador utópico desligado daquilo que nos mantém como parte da engrenagem que faz funcionar esta grande máquina a que chamamos (Nuno) Sociedade.

Qual tigre de papel numa selva urbana, o sonhador costa-marfinense assentou arraiais na frondosa vila Condal sem saber muito bem o que o esperava. Colocado por Clark Gable numa posição mais recuada no terreno, o pequeno fantasista era como um belo peixinho dourado num baço saco de plástico. Claro que queria deslumbrar casas de banho por esse planeta fora num pomposo aquário...e tinha potencial para o fazer. Mas preso num saquinho de plástico poderia apenas rezar para que o resgatassem do anonimato e o despejassem em algo melhor.
Sendo que apenas existiam duas opções - a sanita ou o aquário - Sob não demorou a escolher a segunda. E em boa hora.

Assim que se encontrou solto de amarras, o Pequeno Artista assumiu a camisola 10 como uma segunda pele, pousou a alva tela sobre o cavalete, sacou os pincéis do bolso do equipamento (mesmo por baixo do "O" da palavra "RECHEIO") e pintou.

Pintou.

Pintou o céu, tocando-lhe com dois dedos. Dois dedos de conversa, dois dedos de prazer, dois dedos de imortalidade, uma mão de Vata. Em poucos segundos, o Céu Futebolístico era Marco de Canaveses e Evariste Sob era Avelino Ferreira Torres. O Céu Futebolístico era o Texas e Dibo era Walker, o Ranger.
Carte Blanche para o inevitável encontro com o destino para um jantar a dois. A ementa? Magia.

Evariste Sob, o Pequeno Mágico, pintava. Pinceladas de criatividade, perícia e maestria em tons de verde-alface, que contrastavam com a palete de tons acinzentados que Baíca, China, Emanuel ou Luís Coentrão emprestavam ao meio-campo vilacondense. Os adeptos exultavam perante um diminuto Miguel Ângelo negro que todos os fins-de-semana lhes oferecia um pouco mais da sua própria Capela Sistina.

Porém, todas as belas histórias têm o seu final. Todo o Batman tem o seu Joker, todo o Armando Sá tem o seu Cândido Costa e todo o Vale e Azevedo tem o seu tribunal. Sob Evariste?
Tinha algo bem mais grave. Uma nemesis, que não sendo exterior, fazia parte de si mesmo. Como qualquer bom artista que se preze, o costa-marfinense distraía-se com relativa facilidade. O seu calcanhar de Aquiles eram mesmo os aeroportos.

Raramente apanhava o vôo que lhe era destinado, dada a facilidade com que se perdia nos amplos corredores destas gigantescas construções vanguardistas. Observava os bifes e os camónes embarcando em vôos para o Algarve, via emigrantes felizes em Agosto e Dezembro fugindo de Paris para o Sá Carneiro sob a égide triunfal de Graciano Saga, o Dinis da música popular portuguesa.

E por ali ficava. Ocasionalmente sentava o seu mágico traseiro no chão e pintava o rebuliço das gentes, em troca de uma sandes de requeijão ou um CD de Hall & Oates. O seu vôo? Uma memória distante apenas. O que interessava era o nascer de uma nova vida sob a forma de uma folha de papel enrugada com uns rabiscos a lápis. E quem o poderá culpar? Não será o RECHEIO de carne picada deste pastel de chaves que é a vida feito destes momentos de abstracção e alienamento que nos levam a descobrir quem afinal somos?

Quem é afinal Evariste Sob Dibo senão um artista?

quinta-feira, junho 12, 2008

Convocatória

Bem Hajam, Povo da Bola.

Dada a nossa vontade de melhorar o serviço prestado à comunidade cromática, decidimos alargar o nosso leque de opções postágicas, adicionando assim um novo membro ao extenso plantel de dois elementos.

Como o tempo da ditadura já lá vai (o último déspota conhecido à Bola foi Czar Dimitri Prokopenko, no Ano V D.D. - Depois de Dacroce), decidimos democratizar esta iniciativa, alargando-a ao Povo da Bola.

Para tal, tereis apenas que enviar via mail (destacado na barra lateral) uma crónica referente a um cromo à vossa escolha. Por favor evitem linguagem grosseira, referências a jogos de bastidores e panados.

Aguardamos a vossa comparência neste contínuo baile de debutantes que é a vida. Façam-se à estrada, companheiros.

Blog de regresso



Superados os problemas logísticos, estamos de regresso aos grandes palcos, tal como o Afonso Martins ao balcão de um McDonalds.

Em breve retomaremos a incessante balbúrdia reflectida em posts sem sequência lógica e com erros de sintaxe.

Bem Hajam.
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